O gênero textual exigido na prova de redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) é a dissertação – argumentativa, na qual não basta, apenas, dissertar, expor, apresentar fatos, ideias, exemplos, citações, dados etc.; o fundamental é opinar acerca das questões expostas,
embasado em argumentos consistentes, fortes, que não são rebatidos
facilmente e que tenham como objetivo tentar (e se conseguir melhor
ainda) convencer o leitor em relação ao que foi posto.
Para chegar a este ponto, é essencial que o participante do Enem conheça e saiba utilizar estratégias argumentativas,
algo que é abordado durante toda a passagem pela escola devido a sua
importância, inclusive social e pública, já que linguagem e compreensão
são dialógicas, nas quais, a todo momento, estamos respondendo
ativamente ao que lemos, ao que ouvimos, ao que vemos e sempre entramos
em embates ideológicos, pois a língua é ideológica e nunca será neutra.
Assim, sempre pensamos algo sobre tudo, já que sempre temos uma opinião sobre tudo; podemos até ser metamorfoses ambulantes
como dizia Raul Seixas, podemos mudar de ideia, mas sempre a temos
acerca de todo e qualquer assunto, tema, pessoa etc. (neste exato
momento você, leitor, está pensando algo sobre este texto e sobre a
autora; você pode estar gostando ou não, concordando ou não, achando
chato, interessante, instrutivo, repetitivo dentre tantas outras
coisas).
Portanto, em todas as relações sociais que temos (pessoais,
profissionais, acadêmicas etc.) a nossa opinião é essencial e requerida e
não poderia deixar de ser diferente em um exame como o Enem, até porque
através de toda a prova a instituição traça o perfil do candidato
almejado e toda faculdade e universidade deseja, sem dúvida, alunos que
tenham o que dizer e que sustentem esse dizer em argumentos
consistentes.
Mas como desenvolver bons argumentos? Escrever apenas dissertações –
argumentativas já é o suficiente? A resposta para esta segunda pergunta é
“não“, já que há outros gêneros textuais que são da
ordem do argumentar e, conhecê-los, com certeza ajuda e muito no momento
de planejar e escrever o gênero textual pedido no Enem, já que a
dissertação – argumentativa não é a única que traz opiniões e
argumentos.
Onde há discussão sobre problemas sociais (normalmente controversos)
há argumentação e, junto a ela, está a refutação (contestação),
sustentação e a negociação de tomadas de posição, ou seja, toda uma
estratégia argumentativa que compõe a ordem do argumentar (quando
falamos em argumentar falamos em opinar baseado em argumentos, já que
opinar sem argumentar de nada vale, no Enem e na vida, pois entrar em um
debate sem argumentos é praticamente um suicídio).
Gêneros escritos como artigos de opinião, editoriais, cartas do
leitor e resenhas críticas e orais como debates (principalmente neste
ano, já que haverá eleições), entrevistas, palestras, discursos são
alguns dos exemplos de textos que possuem, em sua essência, o
argumentar.
Em um artigo de opinião, por exemplo, o articulista defende
seu ponto de vista sobre determinado assunto, normalmente atual e
relevante, relacionando-o com seus conhecimentos de mundo; a diferença
entre este gênero e a dissertação – argumentativa é que esta é escrita de modo impessoal e o artigo opinativo
pode ser escrito na 1ª pessoa do singular, já que trata-se da opinião
de uma determinada pessoa, a qual o leitor se interessa em ler porque
concorda ou até discorda dela e, assim, tem o costume de ler para
refutar as colocações.
Já o editorial é um texto também opinativo, mas de autoria
institucional, ou seja, é a opinião de um determinado veículo de
comunicação (jornal escrito, revista e jornal televisionado, já que os
âncoras podem emitir suas opiniões, que refletem os pensamentos da
emissora, sobre os assuntos).
Cartas do leitor (seja para denunciar ou reclamar algo,
elogiar, discordar, questionar etc.) são essencialmente argumentativas,
já que nenhum leitor escreve para um jornal ou revista por lazer, para
passar o tempo e sim por alguma motivação e para dialogar e expor sua
opinião para o veículo de comunicação (destinatário) e para os demais
leitores.
Uma resenha crítica é um texto sobre um livro, um filme, uma
exposição, um programa de TV, rádio etc. que expressa uma opinião sobre
seu objeto de análise e é escrita por críticos, profissionais
especializados que argumentam contra ou a favor e, assim, expõem o que
pensam.
Assim, ao lermos e analisarmos estes textos (Quais estratégias
argumentativas o articulista utilizou para refutar aquela afirmação?
Como o editorial opina de forma impessoal, já que sua autoria é
institucional? Como o leitor constrói sua carta a fim de reclamar de um
problema em seu bairro ou para contestar uma reportagem de um jornal? De
que maneira o crítico tenta convencer o leitor de que este livro não
vale a pena ser lido?) em seus meios de publicação podemos refletir
sobre como a argumentação foi estruturada, de que forma ela progride
(não se esqueçam da progressão temática) e como os textos são
finalizados.
Mas não temos apenas os textos escritos; os gêneros orais
como os debates são 100% argumentação, já que cada debatedor quer
convencer o outro e o espectador de que ele, e apenas ele, está certo;
seja em um programa de debates ou em um debate político, o objetivo
central é o convencimento do outro.
Em entrevistas na televisão nos quais há mais de um
entrevistador para somente um entrevistado, às vezes deixa de ser uma
entrevista e passa a ser um verdadeiro debate, principalmente se o tema
for polêmico como religião, política, políticas públicas (cotas,
programas assistenciais etc.).
Já em palestras e discursos, também temos a
exposição, a apresentação de diferentes formas de saber, mas, no fundo, a
meta é também o convencimento de que aquele trabalho, aquela pesquisa é
importante e tem resultados úteis, práticos e relevantes.
Nestes gêneros orais podemos analisar e refletir, por exemplo, por
que um debatedor se sobressai, que artimanhas um bom entrevistador
utiliza, como um entrevistado sai de uma saia justa ou como não sai, se
os argumentos são do senso comum ou revelam algo inovador e lógico, de
que ordem eles são (pessoal, científica, política, religiosa etc.) e
como são rebatidos pelo outro dentre outras questões.
Obviamente temos de separar muito bem suas estruturas composicionais e
estilos da estrutura composicional e estilo da dissertação –
argumentativa; este bom senso é fundamental, mas podemos concluir que
conhecer, ler e escrever gêneros da ordem do argumentar só enriquecem
nosso poder de argumentação, através da análise e da reflexão.
Não bastar ler, decodificar; para ter uma boa nota no Enem, devemos
ter a cultura e o hábito da análise e da reflexão acerca de tudo o que
lemos, vemos e ouvimos.
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